Diálogos da Fé

Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões

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Fundamentalismo religioso e a bandeira anticomunista

Se antes a religião serviu como catalisadora de movimentos libertários na América Latina, hoje, r💫evestida de uma linguagem conservadora, é ferramenta indispensável para a inserção da direita

Vácuo. Os evangélicos ocuparam o espaço deixado pelas esquerdas, mas com proposta política radicalmente distinta - Imagem: Mauro Pimentel/AFP
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A influência política e social da religião tem sido um ponto de grande interesse e mobilização para a classe trabalhadora, destacando-se como um tema central na disputa ideológica. Se antes a religião serviu como catalisadora de movimentos libertários na América Latina, hoje, revestida de uma linguagem conservadora, é ferramenta indispensável para a inserção da direita nos estratos mais profundos da sociedade.

A ascensão da direita religiosa é evidente através da ocupação de espaços institucionais e da sua influência direta na vida cotidiana, especialmente por meio do estrela bet:fundamentalismo religioso ಞcristão, que se tornou um dos pilares do projeto neoliberal na América Latina. Este processo não a♍penas se traduz na supressão de direitos da população, mas também na disseminação de discursos que enfraquecem as pautas e lutas coletivas, promovendo um individualismo exacerbado.

Quando olhamos a história do fundamentalismo religioso cristão, notamos que as políticas imperialistas sempre estiveram em seu cerne, porém, com uma linguagem religiosa que buscava manter o status quo. 🦄A ascensão do fundamentalismo religioso na América Latina, é importante ressaltar, surge como uma reação aos avanços políticos e sociais do continente, como aponta o

Tanto nos Estados Unidos, no final do século 19 e início do 20, quanto no Brasil de 2024, é notável a presença marcante do anticomunismo como uma das principais bandeiras do fundamentalismo religioso. Esse fenômeno remonta às origens do movimento e à obra The Fundamentals, que emergiram em resposta ao Evangelho Social, influenciado por análises marxistas, e mais  à frente a própria Teologia da Libertação, frequentemente rotulada de forma pejorativa como “coisa de comunista”. Embora o grito fundamentalista que ressoa mais alto é do da pauta de “moral e bom costume”, é importante perceber o pano de fundo desse projeto.

O pensamento anticomunista tem diversas facetas, refletindo a sua natureza plural e multifacetada. Ao longo dos diferentes períodos e contextos, é evidente uma frente política e social de direita que se unifica em oposição ao comunismo como um inimigo comum. Suas reivindicações giram em torno do absoluto respeito à propriedade privada, da coesão familiar, da ordem, bem como da defesa de uma visão de mundo fundamentada em princípios cristãos, estrela bet:católicos e estrela bet:evangélicos.

Embora o anticomunismo brasileira tenha moldes norte-americanos, não foi apenas uma mera reprodução, pois encontrou no país solo fértil dos valores cristãos católicos, que se contrapunham ao discurso comunista. Entre os ataques à imprensa, à perseguição do Partido comunista no período da Guerra Fria, foi a partir dos anos 1950 é que as agências estatais estadunidenses começam uma campanha mais sistemática contra o comunismo na América Latina com o discurso de “proteção à liberdade”. Para um aprofundamento maior, recomendo a leitura da obra de Rodrigo Patto de Sá Motta, em  seu livro “Em Guarda contra o Perigo Vermelho”, relançado em 2021 pela editora Eduff. Naquele período, para o catolicismo, o comunismo se apresenta como mais um inimigo a ser combatido em prol da fé, pois ele não se apresentava apenas como uma pauta econômica e política, mas também como uma sistema de filosofias e crenças que desafiava os valores e a moral cristã, pois negava a existência de Deus, apregoava um materialismo ateu, instigava uma violenta luta de classes etc. Aqui se entendia a religião como um instrumento importante em barrar o avanço do comunismo, pois a linguagem colocada para o comunismo era também mística, o “mau”, do “diabo” e outras características que permanecem até hoje. Relembrar o lema integralista é necessário, e da verdade, mais próximo do nosso contexto que gostaríamos, “Deus, Pátria e Família”. Nas eleições de 2022, e em todo seu mandato, Jair Messias Bolsonaro utilizou incessantemente esse lema, acrescentando a “liberdade” como quarto elemento. Vale pensar na “Marcha com Deus, pela Família e Liberdade”, de 1964, que mobilizou diversas pessoas, unindo as temáticas da religião, para além do cristianismo católico, e liberalismo numa bandeira anticomunista. Já os evangélicos, se manifestam mais abertamente no período da Ditadura Empresarial Civil-Militar sob a justificativa de que havia uma crise moral na sociedade e que o crente deveria se posicionar publicamente neste sentido. Os temas variavam: desde os excessos do carnaval brasileiro, o debate sobre a legalização do aborto na América latina, o enfrentamento ao ecumenismo ou “liberalismo religioso” até questões geopolíticas como as relações dos Estados Unidos contra a União Soviética, Cuba e China.

Mais recente, vemos a associação do estrela bet:Partido dos Trabalhadores com o estrela bet:comunismo, embora tenha sempre sido um partido moderado, sem perder alguns símbolos importantes como a cor vermelha e a estrela. A pesquisa divulgada pelo Ipec,  em março de 2023, aponta que 44% concordam totalmente (31%) ou em parte (13%) com a afirmação de que o Brasil podeﷺ se tornar comunista.  Há uma interconexão do anticomunismo e antipetismo nos últimos anos no país, e muito do que foi fomentado veio dos setores religiosos fundamentalistas cristãos. Isso fomenta o imaginário que o PT no poder significa o ataque às igrejas cristãs, a moral e bons costumes, pois, o PT seria criptocomunista, preparando para tornar o Brasil de fato comunista.  Diversos pastores fundamentalistas têm produzido conteúdos sobre a temática de que a ameaça comunista, que o comunismo vai acabar com o país ou fechar igrejas, e claro, acabar com sua família.

Em suma, o pensamento comunista é o inimigo principal a ser combatido pelo fundamentalismo religioso, pois o comunismo seria o responsável por todos os males que acercam a família, a propriedade privada, à pátria, os bons costumes e claro, a fé cristã. No entendimento das bandeiras do fundamentalismo religioso é necessário ter isso pontuado: o anticomunismo é a bandeira mais forte do fundamentalismo. As pautas de família, gênero e sexualidade são os “frutos” desse pensamento primeiro que é puramente econômico e político, e posteriormente, social, para a manutenção da propriedade privada, reprodução econômica e social. Apesar dos desafios, é importante manter viva a chama da luta. É através da resistência, da organização popular e da solidariedade que podemos enfrentar esse projeto de poder e combater ideologias opressoras e imperialistas, até porque, como já dizia Karl Marx: “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.”

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