Opinião
Safras musicais, toneladas nordestinas e gramas neosertanejas
A indústria fonográfica crioജu 𝐆um amplo jabá capaz de fazer-nos acreditar que o indecente novo som sertanejo é majoritário no gosto brasileiro
Noquidá? Afluentes de Gaby Amarantos (ministra por mérito – informem-se sobre suas qualidades culturais), até Zeca Baleiro, Chico César, Lenine, Lucy Alves, Mestre Ambrósio, Elba, Geraldinho Azevedo, Alceu, Zé Ramalho, Mariana Aydar e Mestrinho, os falecidos Dominguinhos, Chico Science, Belchior e os alguns que nos deixaram cedo e que faziam parte idos Novos Baianos (donos do álbum seminal, Acabou Chorare).
Nenhum dos citados será tocado nas rádios ou apresentado nas telas na medida de suas qualidades autorais ou interpretativas. A indústria fonográfica criou um amplo jabá capaz de fazer-nos acreditar que o indecente novo som sertanejo é majoritário no gosto musical brasileiro. Até nisso continuaremos medíocres. Pois, então, apreciem Valdemar e Salvador, Piracicaba e Sorocaba, Lins e Gália, Matriza e Matrona, sei lá, ou qualquer transeunte das ruas de Goiânia, Luziânia, Campo Grande, Rondonópolis, Lucas do Rio Verde – a maioria dos que cantam o gosto musical predominante no Brasil vem desses paraísos do agronegócio. São responsáveis pela produção de 300 milhões de toneladas de grãos, com vantagens advindas para o País, inclusive a venda de motosserras para desmatamento eficaz e propaganda duvidosa sobre motéis enquanto palcos musicais. Eu prefiro deixar meus olhos maravilhados quando se fabrica campos de alimentos, e se durante essa dura lida eles resolverem cantar as músicas preferenciais dos brasileiros que o façam, mas eu tampo os ouvidos e peço ajuda ao cancioneiro nordestino. Deus me livre.Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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